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 Escuta Zé-Ninguém-2

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Torcato
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MensagemAssunto: Escuta Zé-Ninguém-2   Escuta Zé-Ninguém-2 EmptyTer Fev 03, 2009 12:05 pm

Faço amor com a minha mulher porque a amo e a desejo e não porque tenha um certificado de casamento ou para satisfazer as minhas necessidades sexuais.
Não bato nas crianças, não vou à pesca e não mato veados nem coelhos. Mas não atiro mal e gosto de acertar no alvo.
Não jogo brídge, não dou festas com o fito de divulgar as minhas teorias. Se o que penso é correto divulgar-se-á por si próprio.
Não.submeto o meu trabalho às autoridades oficiais de saúde, a não ser que elas possam entendê-lo melhor do que eu. E sou em quem decide quem pode manejar o conhecimento e as particularidades da minha descoberta.
Observo estritamente o cumprimento das leis quando fazem sentido, e luto contra elas quando obsoletas ou absurdas. (Não corras já para o presidente da Câmara, Zé Ninguém, porque se ele for um homem decente faz o mesmo.).
Desejo que as crianças e os adolescentes experimentem com o corpo a sua alegria no prazer tranqüilamente.
Não creio que para ser religioso no sentido genuíno da palavra seja necessário destruir a vida afetiva e tornar-se crispado e encolhido de corpo e de espírito.
Sei que aquilo a que chamas “Deus” existe, mas de forma diferente da que pensas: é a energia cósmica primordial do Universo, tal como o amor que anima o teu corpo, a tua honestidade e o teu sentimento da natureza em ti ou à tua volta.
Ponho na rua quem quer que seja que, sob qualquer pretexto insignificante, tente interferia no meu trabalho clínico e pedagógico com doentes ou crianças. Confrontá-lo-ia em tribunal com algumas perguntas simples e claras a que não lhe seria possível responder sem cobrir a cara de vergonha para o resto da vida. Porque eu sou um homem de trabalho que sabe o que um homem é por dentro, que sabe o que o outro vale e que deseja que seja o trabalho a governar o mundo, e não as opiniões sobre o trabalho. Tenho a minha opinião e sei distinguir uma mentira da verdade que quotidianamente emprego como instrumento e que sei manter limpo após uso.
Tenho muito medo de ti, Zé Ninguém, um enorme e profundo medo, e nem sempre foi assim. Eu já fui um Zé Ninguém entre milhões de outros. Hoje, como cientista e psiquiatra, sei ver que és doente e perigoso na tua doença. Aprendi a reconhecer o fato de que é a tua doença emocional que te destrói minuto a minuto, e não qualquer poder exterior. Há muito já que terias suprimido os tiranos
se estivesses vivo e são no teu íntimo. Hoje em dia os teus opressores vêm das tuas próprias fileiras, tal como outrora vinham dos estratos mais altos da hierarquia social. Ainda são mais medíocres do que tu, Zé Ninguém. Porque, tendo conhecido por experiência a tua miséria, é necessária muita mediocridade para utilizar esse conhecimento com vista à tua supressão ainda mais perfeita e eficaz.
Tu não tens sequer a capacidade de reconhecer um homem verdadeiramente grande. O seu modo de ser, o seu sofrimento, as suas aspirações, raivas e lutas. em teu nome são-te completamente alheios. Nem sequer entendes que existem homens e mulheres incapazes de suprimir-te ou explorar-te e que genuinamente desejam que sejas livre, real o verdadeiramente livre. Nem. te agradam, porque são de outra natureza. São simples e diretos; para eles, a verdade corresponde às tuas tácticas. Vêem-te à transparência, não em derisão, mas em mágoa pelo destino dos homens. Mas tu sentes apenas que olham através de ti, e tens medo. Só os aclamas, Zé Ninguém, quando muitos outros Zés Ninguéns te dizem que esses grandes homens são grandes. Tens medo deles, do tão perto que estão da vida e do amor que lhe têm. O grande homem ama-te simplesmente como criatura humana, ser vivo.
Deseja apenas que cesse o teu sofrimento milenar. Que cales o teu milenar cacarejo. Que não mais sejas besta de carga como o tens sido, porque ama a vida e desejaria vê-la liberta do sofrimento e da ignomínia. És tu que levas os homens verdadeiramente grandes a desprezarem-te, a retirarem-se com tristeza do teu convívio medíocre, a evitarem-te e, pior de tudo, a terem compaixão de ti. Se fosses psiquiatra, Zé Ninguém, um Lombroso, por exemplo, tentarias esmagá-los como a criminosos irrecuperáveis ou psicóticos. Porque os objetivos da vida dum grande homem são diversos dos teus - não consistem na acumulação. de bens, nem no casamento socialmente adequado das filhas, nem na sua carreira política, nem na obtenção de honras acadêmicas ou do Prêmio Nobel. E porque não é como tu, chamas-lhe “gênio” ou “excêntrico”. Mas o grande homem apenas se reserva o direito de ser um ser humano. Chamas-lhe “a-social”, porque prefere o seu gabinete de trabalho ou o seu laboratório, a sua linha de pensamento e o seu trabalho às tuas festinhas ridículas e destituídas de sentido. Chamas-lhe louco porque prefere gastar o
seu dinheiro na investigação científica em vez de comprar ações ou outros bens. Na tua degenerescência, Zé Ninguém, ousas considerá-lo como “anormal” o homem simplesmente reto, pois que o comparas contigo, o protótipo da “normalidade”, o “homo normalis”. Ao medi-lo com a tua medida estreita não lhe encontras as dimensões da tua normalidade. Nem entendes, Zé Ninguém, que és tu que o afastas das tuas reuniõezinhas sociais, que apenas lhe são insuportáveis, quer nas tabernas quer nos salões de baile, porque te ama e deseja genuinamente auxiliar-te. O que o torna aquilo que é após várias décadas de sofrimento? Tu, na tua irresponsabilidade, na tua tacanhez, na tua incapacidade de refletir, e os teus “axiomas eternos” que não sobrevivem a dez anos de progresso social. Lembra-te.apenas de todas as coisas que tomaste por certas durante os escassos anos que decorreram entre a primeira e a segunda guerra mundiais. Quantas reconheceste como erradas, de quantas foste capaz de te retratar? De nenhumas, Zé Ninguém. Porque o homem realmente maior pensa cautelosamente, mas quando se apropria de uma idéia, pensa a longo prazo. E és tu, Zé Ninguém, que fazes do grande homem um paria quando o seu pensamento correto e duradouro enfrenta a mesquinhez e a precariedade das tuas convicções. És tu que o condenas à solidão, não à solidão que gera grandes obras, mas à solidão do temor da incompreensão e do ódio. Porque tu és “o povo”, a “opinião pública” e a “consciência social”. Já alguma vez pensaste na responsabilidade gigantesca que estes atributos te conferem, Zé Ninguém? Já alguma vez perguntaste a ti próprio se pensas corretamente, quer do ponto de vista da trajetória social onde estás inserido, quer da natureza, quer até do acordo com os atos humanos de uma figura como, por exemplo, a do Cristo? Não, Zé Ninguém, nunca te inquietaste com a possibilidade do que pensas estar errado, mas sim com o que iria pensar o teu vizinho ou com o preço possível da tua honestidade. Foram estas as únicas questões que puseste a ti próprio.
E depois de condenares o grande homem à solidão é ainda teu hábito esquecê-lo. Segues o teu caminho, perorando outras asneiras, cometendo outras baixezas, ferindo de novo. Esqueces. Mas é da natureza do grande homem não esquecer nem vingar-se, mas tentar entender A INCONSISTÊNCIA DO TEU COMPORTAMENTO.
Sei que também te é estranho que assim seja. Podes crer, porém, que o sofrimento que infliges tantas vezes inconscientemente - e que quantas vezes logo esqueces - é para o grande homem, mesmo se incurável, motivo de reflexão em teu nome, não pela grandeza dos teus atos vis, mas exatamente pela sua pequenez. E é ele quem se interroga sobre o que te leva a maltratar o marido ou a mulher que te desapontou, a torturar os teus filhos porque desagradam a vizinhos odiosos, a desprezar e explorar alguém só porque é bondoso; a receber quando te dão e a dar quando te exigem, mas nunca a dar quando o que te é dado o é por amor; a bater em quem já está de rastos; a mentir quando te é pedida a verdade e a persegui-la bem mais do que à mentira. Zé Ninguém, tu estás sempre do lado dos opressores. Para que o estimasses e te caísse em graça, o grande homem teria de se adaptar ao teu modo de ser, Zé Ninguém, falar como tu e gabar-se das mesmas virtudes. A verdade é que se ostentasse as tuas virtudes, falasse a tua linguagem e gozasse da tua amizade não mais seria grande, autêntico ou simples. Prova é que os teus amigos que dizem exatamente o que esperas que eles digam nunca foram grandes homens. Tu não acreditas que qualquer amigo teu possa conseguir o que quer que seja de grande. No mais intimo de ti próprio, desprezas-te, mesmo quando – ou particularmente quando – gabas mais da tua dignidade; e se te desprezas, como poderias respeitar os teus amigos? Nunca poderias acreditar que quem quer fosse que se sentasse à tua mesa ou vivesse na mesma casa contigo pudesse realizar o que quer que fosse de grandioso.
Perto de ti é difícil pensar, Zé Ninguém. É apenas possível pensar acerca de ti, nunca contigo. Porque tu sufocas qualquer pensamento original. Tal como uma mãe, tu dizes às crianças que exploram o seu mundo: “Isso não é próprio para crianças”.Como um professor de biologia, dizes: “Isso não é coisa para bons alunos. O quê, duvidar da teoria dos germes do ar?” Como um professor primário, dizes: “As crianças são para ser vistas, e não para se ouvirem”.Como uma mulher casada, dizes: “Há! A investigação! Eu e a tua investigação! Porque é que não vais para um escritório, como toda a gente, ganhar decentemente a tua vida?” Mas sobre o que se escreve nos jornais tu acreditas, quer percebas quer não.
Garanto-te, Zé Ninguém, que perdeste o sentido do que mais vale em ti mesmo. Morre de sufocação às tuas mãos, em ti e onde quer que o encontres nos outros, nos teus filhos, na tua mulher, no teu
marido, no teu pai e na tua mãe. Tu és medíocre e queres continuar a sê-lo.
Perguntas-me como sei eu tudo isto? Eu digo-te:
Conheço-te. Experimentei-te e experimentei-me contigo. Como terapeuta libertei-te da tua mesquinhez, como educador orientei-te no sentido da espontaneidade, da confiança. Sei como te defendes da espontaneidade, sei o terror que te toma quando te pedem que sejas tu próprio, autêntico e genuíno.
Eu sei que não és apenas medíocre, Zé Ninguém. Sei que também tens as tuas grandes horas na vida, momentos de “júbilo” e “exaltação”, de “vôo”. Mas falta-te a coragem para subir cada vez mais alto, para manter a tua própria exaltação. Tens medo de altos vôos, medo da altura e da profundidade, Nietzsche já te disse isto muito melhor, há muitos anos já. Só que não te disse porque é que és assim. Tentou transformar-te num super-homem, um Übermensch que superasse o que tens de humano. O Übermensch (Além-Homem ou Super-Homem) tornou-se “Führer Hitler”. Tu permaneceste Üntermensch. Eu gostaria apenas que fosses tu próprio. Tu próprio, em vez do jornal que lês ou da balofa opinião do vizinho. Sei que não sabes o que és e como és em profundidade. Sei que em profundidade és como o animal acossado, como o teu próprio Deus, como o poeta ou o sábio. Mas crês ser o membro da Legião ou do teu clube ou da Ku Klux Klan. E como crês sê-lo, ages em conseqüência. Também isto já foi dito por outros: Heinrich Mann, na Alemanha, há vinte e cinco anos, Upton Sinclair, Dos Passos e outros, nos Estados Unidos. Mas tu nunca ouviste falar de Mann ou de Sinclair. Só conheces os campeões de boxe e Al Capone. Se tivesses de escolher entre o ambiente de uma biblioteca e o de uma taberna, escolhias o da taberna.
Exiges que a vida te conceda a felicidade, mas a segurança é-te mais importante, ainda que custe a dignidade ou a vida. Como nunca aprendeste a criar felicidade, a gozá-la e a protegê-la, não conheces a coragem do indivíduo reto. Queres saber o que és, Zé Ninguém? Ouve os anúncios publicitários dos teus laxantes, das tuas pastas de dentes e desodorizantes. Mas não ouves a música da propaganda. Não distingues a abissal estupidez e o mau gosto de coisas que se destinam a ficar-te no ouvido. Já alguma vez prestaste atenção às piadas que o intelectualóide larga a teu
respeito nas revistas? Piadas sobre ti e sobre ele, piadas de um mundo reles e desgraçado. Escuta a tua publicidade aos laxantes e saberás o que és.
Escuta, Zé Ninguém: a miséria da existência humana é visível à luz de cada um destes pequenos horrores. Cada ato mesquinho teu faz retroceder de mil passos qualquer esperança que possa restar quanto ao teu futuro. E sentes isto tão penosamente que, para não o saberes, inventas graças de mau gosto e chamas-lhes “humor popular”. Ouves a piada que te humilha e ris-te com os outros. Ris-te do Zé Ninguém, sem entender que é de ti que te ris, tal como milhões de outros Zés Ninguéns. Já alguma vez perguntaste a ti próprio por que razão dá espaço ao longo dos séculos à tal brincadeira maliciosa? Já alguma vez te chocou até que ponto “as pessoas” são ridículas nos filmes? Vou tentar dizer-te por que razão és ridículo e vou dizer-te porque te levo muito, mesmo muito, a sério:
Consegues sempre faltar à verdade naquilo que pensas, à imagem do excelente atirador que, se assim o quiser, consegue acertar sempre mesmo abaixo do centro do alvo. Há já muito que poderias ser senhor de ti próprio, se tentasses pensar corretamente. Só que tu pensas assim:
“A culpa é dos judeus”. “Que é um judeu?” – pergunto eu. “São pessoas com sangue judeu” – respondes. “Qual é a diferença entre o sangue judeu e o outro?” Aqui estacas, hesitas, ficas confuso e respondes: “Quero dizer, dá raça dos judeus”.“Que é raça?” – pergunto eu. “Raça? É simples, assim como existe uma raça germânica, existe a raça dos judeus”. “Que é que caracteriza a raça dos judeus?” “Bom, um judeu tem cabelos pretos, tem uma bossa no nariz e olhos muito vivos. Os judeus são avarentos e capitalistas.” “Já alguma vez viste um francês do Sul ou um italiano ao Pé dum judeu? Sabes distinguí-los?” “Lá isso não sei assim muito bem” “Bom, então que é um judeu? As análises de sangue não mostram qualquer diferença, não se distingue de um francês ou de um italiano. E já alguma vez viste judeus alemães?” “Já, pois, parecem alemães.” “E que é um alemão?” “Um alemão pertence à raça ariana nórdica.” “Os Índios são arianos?” “São.” “E são nórdicos?” “Não.” “E loiros?’ “Não.” “Bom, então não sabes o que é um alemão e o que é um judeu.” “Mas há judeus.” “Pois há, tal como há cristãos e maometanos.” “Eu refiro-me à religião judaica.”
“Roosevelt era holandês?” “Não.” “Então porque é que chamas judeu a um descendente de David, se não chamas holandês ao Roosevelt?” Com os judeus é diferente. “Em que é que é diferente?” “Não sei.”
E é assim que tu desatinas, Zé Ninguém. E sobre os teus desatinos levantas exércitos capazes de assassinar dez milhões de pessoas, porque são “judeus”, sem que tu saibas sequer dizer o que é um judeu. E é por isso que és ridículo, que o melhor é evitar-te quando se tem alguma coisa de sério para fazer, é por isso que permaneces no lameiro. Quando dizes “judeu” sentes-te superior. E és forçado a dizê-lo pela tua própria miséria, pois o que matas no judeu é o que sentes que tu próprio és. Mas isto é apenas uma ínfima parcela da tua verdade, Zé Ninguém.
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