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 Escuta Zé-Ninguém-3

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Torcato
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MensagemAssunto: Escuta Zé-Ninguém-3   Escuta Zé-Ninguém-3 EmptyTer Fev 03, 2009 12:10 pm

Quando dizes “judeu” cheio de arrogância e desprezo sentes menos a tua própria mesquinhez. Só recentemente me dei conta de que assim era. Só chamas “judeu” a quem suscita muito pouco ou demasiado o teu respeito. A tua concepção de “judeu” é perfeitamente arbitrária. Só que eu não te dou o direito a usá-la, quer tu sejas judeu ou ariano. Só eu próprio tenho o direito a determinar quem sou. Biológica e culturalmente sou um rafeiro e orgulho-me de ser o produto intelectual e físico de todas as classes, raças e nações, orgulho-me de não pertencer a uma “raça pura”, como tu, de não pertencer a uma “classe pura”, de não ser chauvinista como tu, um fascistinha de todas as nações, raças e classes. Constou-me que em Israel rejeitaste um técnico judeu pelo simples fato de não ser circuncidado. Não tenho mais afinidades com os judeus fascistas do que com quaisquer outros. Porque recuas apenas até Sem, e não até ao protoplasma? A vida para mim tem início nas contrações plasmáticas, e não no escritório de um rabi.
Levou milhões de anos a tua evolução de água-viva a bípede terrestre. A tua aberração biológica sob a forma de rigidez dura apenas há seis mil anos. Levará cem ou quinhentos ou talvez cinco mil anos até que redescubras em ti a natureza, a célula inicial. Eu descobri em ti a água-viva e, quando me ouviste pela primeira vez, chamaste-me gênio. Foi na Escandinávia, andavas tu à procura de um novo Lenin. Mas eu tinha coisas mais importantes a fazer e declinei a função.
Também me proclamaste novo Darwin, ou Marx, ou Pasteur, ou Freud. Disse-te já há muitos anos que também tu poderias falar e escrever como eu, se não passasses a vida a saudar os novos messias. Porque os teus gritos destroem-te a razão e paralisam a tua natureza criadora.
Não és tu que persegues a “mãe solteira” como uma criatura imoral, Zé Ninguém? Não és tu que estabeleces uma distinção severa entre as crianças “legítimas” e as crianças “ilegítimas?” Pobre criatura, que não entendes as tuas próprias palavras - ou não és tu que veneras o Cristo enquanto criança? Cristo menino, que nasceu de uma mãe que não possuía certificado de casamento? Sem fazeres idéia de que assim seja, como.veneras no Cristo criança o teu desejo de liberdade sexual! Fizeste do Cristo criança, nascido ilegitimamente, o filho de Deus, que não reconhece a ilegitimidade de crianças. Para logo em seguida, como Paulo, o Apóstolo, perseguir os filhos nascidos do amor e proteger sob a alçada das leis religiosas os nascidos do ódio. És realmente um desgraçado, Zé Ninguém!
Os teus automóveis e comboios atravessam as pontes que o grande Galileu inventou. Sabias, Zé Ninguém, que o grande Galileu teve três filhos sem qualquer certificado de casamento? Isso não dizes tu às crianças da escola. E não foi também por isso mesmo que o submeteste à tortura?
Sabias, Zé Ninguém, que, na “Pátria dos Povos Eslavos”, o, teu grande Lenin, pai dos proletários de todo o mundo, ao tomar o Poder aboliu o casamento compulsivo? E sabias que ele próprio viveu com a mulher sem certificado de casamento? E foi então que pela mão do chefe de todos os Eslavos restabeleceste as leis referentes à obrigatoriedade do casamento, porque não sabias que havias de fazer da liberdade que te fora concedida por Lenin.
Mas o que é que tu sabes de tudo isto, tu que não fazes a mínima idéia do que seja a verdade, ou a história, ou a luta pela liberdade? Quem és tu para teres opinião própria?
Nem sequer te apercebes de que a opressão das leis que regulam a tua vida matrimonial decorre naturalmente do teu espírito pornográfico e da tua irresponsabilidade sexual.
Sentes-te infeliz e medíocre, repulsivo, impotente, sem vida, vazio. Não tens mulher e, se a tens, vais com ela para a cama só para provar que és “homem”. Nem sabes o que é o amor. Tens prisão de ventre e tomas laxantes. Cheiras mal e a tua pele é pegajosa, desagradável. Não.sabes envolver o teu filho nos braços, de modo que o tratas como um cachorro em quem se pode bater à vontade. A tua vida vai andando sob o signo da impotência, no que pensas, no teu trabalho. A tua mulher abandona-te porque és incapaz de lhe dar amor. Sofres de fobias, nervosismo, palpitações. O teu pensamento dispersa-se em ruminações sexuais. Falam-te de economia sexual. Algo que te entende e poderia ajudar-te. Que te permitiria viveres à noite a tua sexualidade e que te deixaria livre durante o dia para pensar e trabalhar. Que te faria ter nos braços uma mulher sorridente em vez de desesperada, ver os teus filhos sãos em vez de pálidos, amorosos em vez de cruéis. Mas quando ouves falar de economia sexual dizes: “O sexo não é tudo. Há outras coisas importantes na vida”. És assim, Zé Ninguém.
Ou suponhamos que és um “marxista”, um “revolucionário profissional”, um futuro “dirigente dos Proletários do Mundo”. Dizes querer libertar as massas do seu sofrimento. As massas enganadas fogem-te desiludidas e tu gritas enquanto corres no seu encalço: “Parai, massas proletárias! Sou o vosso libertador! Abaixo o capitalismo!” Enquanto eu falo às massas, pequeno-revolucionário, e lhes digo da miséria das suas. pequenas vidas. Ouvem-me, com entusiasmo e esperança. Acorrem às tuas organizações onde esperam encontrar-me. É, então que dizes: “A sexualidade é uma invenção pequeno-burguesa. O que conta é o fator econômico”. E lês os livros de Van de Velde sobre técnicas sexuais.
Quando um grande homem dedicou a sua vida a tentar dar à tua emancipação econômica uma base científica, deixaste-o morrer de fome. Mataste a primeira via de verdade que surgiu no teu desvio das leis da vida. Quando a sua primeira tentativa foi bem sucedida, tomaste-lhe as rédeas da administração e cometeste segundo crime. Da primeira vez, o grande homem dissolveu a organização. Da segunda, estava já morto e nada podia contra ti. Não entendeste que ele havia descoberto no teu trabalho o poder de vida que cria os valores. Não entendeste que a sua reflexão sociológica pretendia. ser a salvaguarda da tua sociedade contra o teu Estado.
Não entendes nada!
E mesmo com os teus fatores econômicos não vais longe. Outro grande homem matou-se a trabalhar para provar-te que terás de melhorar as tuas condições econômicas para que a tua vida tenha sentido e gosto; que indivíduos com fome jamais farão progredir a cultura; que todas as condições de vida terão de ter lugar aqui e agora, sem exceção, que terás de emancipar-te, tu e a tua sociedade, de todas as formas de tirania. Este outro grande homem apenas cometeu um erro ao tentar esclarecer-te: acreditou deveras na tua capacidade de emancipação. Acreditou que uma vez conquistada a tua liberdade serias capaz de a preservar. E cometeu ainda outro erro: consentir que tu, proletário, te tornasses “ditador”.
E sabes o que tu fizeste, Zé Ninguém, do manancial de sabedoria e criação que te legou este homem? Apenas guardaste no ouvido uma palavra: ditadura. De tudo o que te doara um grande espírito e um grande coração apenas uma palavra restou: ditadura! Tudo o mais deitaste fora, a liberdade, a clareza e a verdade, a solução dos problemas da servidão econômica, a metodologia da planificação do futuro - tudo pela borda fora! E apenas a escolha infeliz, embora bem intencionada, de só uma palavra, te caiu em graça: ditadura!
Sobre esta pequena negligência de um grande homem construíste todo um sistema gigantesco de mentiras, perseguição, tortura, deportações, enforcamentos, polícia secreta, espionagem e denúncia, uniformes, marechais e medalhas - enquanto deitavas fora tudo o mais. Começas a perceber como funcionas, Zé Ninguém? Ainda não? Ora tentemos novamente: As. “condições econômicas” do teu bem-estar na vida e no amor, confundiste-as com “mecanização”; a emancipação dos homens, com “grandeza do Estado”; o levantamento das massas, com o desfilar da artilharia; a libertação do amor, com a violação de todas as mulheres a que pudeste deitar a mão ao chegar à Alemanha; a eliminação da pobreza, com a erradicação dos pobres, dos fracos e dos desadaptados; a assistência à infância, com a “formação de patriotas”; o controle da natalidade, com medalhas às “mães de dez filhos”. Não tinhas já sofrido bastante, com esta tua idéia da “mãe de dez filhos”?
Mas também noutros países o infeliz vocábulo “ditadura” te ficou no ouvido. Aí, vestiste-o de uniformes resplandecentes e geraste no teu próprio seio o funcionariozinho místico, sádico e impotente que
te levou ao Terceiro Reich e enterrou sessenta milhões da tua espécie enquanto ias gritando “Viva! Viva!”.
És assim, Zé Ninguém. Mas ninguém se atreve a dizer como és. Porque se tem medo de ti, Zé Ninguém, e se quer que te mantenhas pequeno.
Tu devoras a tua felicidade. Nunca foste capaz de a gozar com plenitude. É por isso que a devoras avidamente, sem sequer assumires a responsabilidade de a assegurares. Nunca te foi permitido aprenderes a cuidar das tuas alegrias, a alimentar. a felicidade, como o jardineiro o faz com as suas flores, como o homem da terra com as suas colheitas.
Os grandes cientistas, poetas e homens de sabedoria sempre fugiram da tua companhia, pois desejaram preservar a alegria que lhes fosse possível. É fácil devorar a felicidade na tua companhia, Zé Ninguém, mas é difícil protegê-la.
Não sabes do que estou a falar, Zé Ninguém? Eu explico-te: um inovador trabalha durante dez, vinte ou trinta anos sem desfalecimentos na sua ciência, ou máquina, ou concepção da sociedade. Tudo o que é novo carrega-o consigo como pesado fardo. Terá de sofrer a, tua estupidez, a mesquinhez das tuas idéias e valores, terá de entendê-las e analisá-las e, finalmente, terá de substituí-las pelos seus atos. Não o ajudarás em nada, Zé Ninguém. Pelo contrário. Não virás dizer-lhe, “ouve, camarada, bem vejo como trabalhas”.E trabalhas na minha máquina, para os meus filhos, a minha mulher, os meus amigos, a minha casa, os meus campos, para que as coisas sejam outras. Sofri durante muito tempo por isto ou por aquilo, mas nada podia fazer. “Posso agora ajudar-te a ajudar-me?” Não, Zé Ninguém, nunca ajudas quem te ajuda. Jogas às cartas ou esfalfas-te a berrar em espetáculos de competição ou vais marrando no teu trabalho no escritório ou na mina. Mas nunca ajudas quem te ajuda. E sabes porquê? Porque todo aquele que é inovador nada mais tem a oferecer-te de início do que idéias. Nem lucro, nem um salário mais alto, nem bônus de Natal, nenhum modo de vida mais fácil. Tudo o que pode oferecer-te são preocupações, e isso já tu tens que chegue.
Mas se apenas te tivesses mantido afastado, sem oferecer ou dar ajuda, nenhum inovador iria queixar-se de ti. Bem vistas as coisas,
não é “para ti” que pensa, descobre, inventa. Fá-lo porque o seu funcionamento vital o impele a que assim seja. Quanto ao cuidado e à compaixão por ti, deixa-os a cargo dos lideres partidários e dos homens do clero. O que realmente lhe seria agradável seria o ver-te capaz de cuidar de ti próprio. Só que tu não te contentas com manteres-te à margem, sem oferecer ajuda. Quando o inovador, após longa e árdua tarefa, finalmente entende os motivos por que és incapaz de dar satisfação no amor à tua mulher, tu vens e chamas-lhe obsceno. Nem fazes a menor idéia de que lhe chamas isso porque es permanentemente forçado a esconder a obscenidade em ti próprio e que por isso és incapaz de amar. Ou então, quando o investigador descobre por que motivo o cancro atinge em massa as populações e tu és, por exemplo, Professor de Patologia do Cancro com um sólido salário, dizes que o investigador é uma fraude, ou que não entende nada sobre os germes do ai-que gasta verbas demasiado elevadas; ou perguntas se é judeu ou estrangeiro; ou insistes que tens direito a examiná-lo a fim de saberes se é suficientemente qualificado para trabalhar no teu problema do cancro, o problema que não consegues resolver; ou preferes ver condenados muitos doentes cancerosos a ter de admitir que foi ele quem descobriu a possibilidade de salvar os teus doentes. Para ti, a tua dignidade catedrática, a tua conta no banco, ou as tuas ligações com a indústria do rádio, significam mais que a verdade e o conhecimento. E é por isso que és medíocre e desgraçado, Zé Ninguém.
Isto é, não só não dás apoio como perturbas maliciosamente o trabalho que te é destinado ou feito em teu beneficio. Entendes agora porque te é negada a alegria? Porque é algo que se trabalha e se ganha. Mas tu apenas sabes devorar a alegria, que por isso te escapa. Com o decorrer do tempo, o inovador consegue finalmente convencer um grande número de pessoas de que a sua descoberta tem valor imediato, ou seja, de que com ela é possível o tratamento de determinadas doenças, ou levantar pesos, ou fazer explodir rochedos, ou penetrar o interior da matéria por meio de radiações. Acreditas depois de ler nos jornais, porque o que vês, não. Respeitas os que te desprezam e desprezas-te a ti próprio, por isso te não é possível crer por teus próprios meios. Mas se a descoberta surge nos jornais, embarcas a correr. Passas a considerar o inovador um “gênio”, embora seja o mesmo homem a quem ontem chamavas fraudulento, obsceno, charlatão ou ameaça à moral
pública. Agora é “gênio”. Tu não sabes o que é “gênio”, tal como não sabes o que é “judeu”, ou “verdade” ou “felicidade”. Eu digo-te, Zé Ninguém, tal como Jack London te disse no seu livro Martin Eden. Sei que o leste milhares de vezes, mas sem o entender: “Gênio” é a marca registrada do produto quando passa a estar à venda. Se realmente o inovador (que ontem era obsceno ou doido) é um gênio, passa a ser possível devorar a felicidade que te oferece. Porque há agora uma multidão de Zés Ninguéns que grita em uníssono contigo: “Gênio! Gênio!” E a multidão vem em cachos comer o produto à mão que lho estende. E se és médico, terás muito mais doentes, aos quais poderás oferecer melhores condições de tratamento e ganharás muito dinheiro. “E então? - dizes tu, Zé Ninguém –, que mal tem isso?” Nenhum, está certo que se ganhe dinheiro com um trabalho honesto e competente. O que não está certo é nada dar à descoberta em si, não a desenvolver, explorá-la apenas. Que é exatamente o que fazes, sem dar um passo para o seu desenvolvimento. Tomas posse do que te dão mecanicamente, com avidez, estupidamente, sem lhe anteveres as possibilidades ou as limitações. Quanto às Possibilidades, nem poderias entendê-las, e tentas ultrapassar as limitações recusando-te a reconhecê-las. Se és médico ou bacteriologista, como sabes que a cólera ou a febre tifóide são doenças infecciosas, passas a vida à procura do microrganismo causador do cancro, perdendo assim estupidamente décadas de investigação. Outro grande homem provou-te outrora que as máquinas obedecem a certas leis; de modo que constróis máquinas de morte e que consideras a vida como mais uma máquina. O teu erro nesta matéria não foi de três décadas, mas de três séculos; conceitos perfeitamente errôneos passaram a fazer parte integrante da atividade científica de centenas de milhares de investigadores; a própria vida se encontra ameaçada, porque a partir deste momento - em nome da tua dignidade, ou da tua cátedra, ou religião, ou conta no banco, ou rigidez de caráter – perseguiste, massacraste e tentaste por todas as formas lesar todos aqueles que empreenderam prosseguir no estudo da função vital.
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