Espera aí...
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.
Espera aí...

Apoio aos fóruns amigos
 
InícioInício  Últimas imagensÚltimas imagens  ProcurarProcurar  RegistarRegistar  EntrarEntrar  

 

 Escuta Zé-Ninguém-11

Ir para baixo 
AutorMensagem
Torcato
Admin
Torcato


Mensagens : 311
Data de inscrição : 08/01/2009

Escuta Zé-Ninguém-11 Empty
MensagemAssunto: Escuta Zé-Ninguém-11   Escuta Zé-Ninguém-11 EmptyTer Fev 03, 2009 12:39 pm

“Quem sou eu para poder substituir as relações diplomáticas por relações internacionais ao nível do trabalho e do desenvolvimento social?”
Ou: “A eliminação das diferenças nacionais no domínio do desenvolvimento econômico e da cultura não é possível”.
Ou: “Queres que se restabeleçam relações de qualquer espécie com os fascistas alemães, ou japoneses, ou com os comunistas russos, ou com os capitalistas americanos?”
Ou: “Acima de tudo interessam-me os destinos da minha Pátria – Rússia, Alemanha, América, Inglaterra, Israel ou Comunidade Árabe”.
Ou: “Já me chegam os problemas que tenho para manter a minha vida em ordem e para me entender com o meu Sindicato dos Alfaiates. Outros que se ralem com os sindicatos de outros países”.
Ou: “Não dêem ouvidos a este capitalista, bolchevista, fascista, trotskista, internacionalista, sexualista, judeu, estrangeiro, intelectual, mitómano, utopista, demagogo, doido, individualista, anarquista. Onde está a vossa consciência de americano, russo, alemão, inglês, judeu?”
Podes ter a certeza absoluta de que usarias qualquer destes slogans, ou outros, a fim de evitar a tua responsabilidade na forma como se processam as relações entre os homens.
“Mas, então, eu não sou nada? Parece que não me reconheces um único traço positivo! Afinal, que diabo, trabalho que me farto, sustento a minha mulher e os meus filhos, levo uma vida decente e sirvo o meu país. Não posso ser tão estupor quanto isso!”
Sei que és uma criatura capaz, sólida, com qualidades de trabalho, tal como uma abelha ou uma formiga. Tudo o que tentei foi pôr-te à mostra o que tens de medíocre e te destrói a vida há já milhares de anos. És GRANDE, Zé Ninguém, quando não és medíocre e mesquinho. A tua grandeza é a única esperança que nos resta a todos. És grande quando desempenhas com gosto a tua tarefa quando trabalhas na alegria a madeira, quando constróis, quando pintas e embelezas os teus espaços, quando trabalhas a terra, quando contemplas o céu na quietude e te comprazes na existência dos animais simples, no orvalho, quando danças e cantas, quando amas a beleza dos teus filhos, o corpo do homem ou da mulher que escolheste; quando vais até um planetário tentar entender o espaço ou a uma biblioteca ler o que pensaram da vida outros homens e mulheres. És grande na tua velhice, com o teu neto no colo, dizendo-lhe de como foi outrora, respondendo à sua curiosidade
confiante. És grande quando és mãe, embalando o teu filho nos braços, o coração cheio de esperança de que para ele venham melhores dias, a felicidade que, hora a hora, lhe vais construindo.
És grande, Zé Ninguém, quando cantas as antigas canções do teu povo ou danças ao som do acordeão, porque os cantos do povo são pacíficos, e são-no em todos os lugares do mundo. E és grande quando afirmas ao teu amigo:
“Ainda bem que o destino me concedeu até hoje uma vida limpa e sem ambições, que pude acompanhar o crescimento dos meus filhos, ouvir-lhes as primeiras palavras, vê-los mover-se, andar, brincar, fazer perguntas, assistir à sua, alegria; ainda bem que não deixei passar a Primavera sem a sentir, que pude gozar o vento ameno e o rumorejar dos regatos e o canto das aves; que não perdi o meu tempo em mexericos com os vizinhos, que amei a minha companheira e que senti correr no meu corpo o fluxo da vida; ainda bem que, mesmo em tempo de perturbação, não perdi o norte nem o sentido da vida. Pois que me foi possível escutar a voz que murmurava no meu intimo: ‘Existe apenas uma única coisa que vale a pena: viver bem e alegremente a própria vida. Escuta a voz do teu coração, ainda que tenhas de afastar-te do caminho trilhado pelos timoratos. E não consintas que o sofrimento te torne duro e amargo.’ E assim, na quietude do cair da tarde, quando me sento na erva em frente de minha casa, depois de um dia de trabalho, com a minha mulher é os meus filhos, ouço no pulsar da natureza à minha volta a melodia do futuro: ‘Humanidade inteira, eu te abençôo e abraço.’ E desejaria então que a vida aprendesse a defender os seus direitos, que fosse possível modificar os espíritos duros e os medrosos, que só fazem troar os canhões porque a vida os desapontou. E quando o meu - filho instalado no meu colo me pergunta: ‘Pai, o sol desapareceu, para onde foi, achas que volta depressa?’, respondo-lhe: ‘Sim, filho, há-de voltar amanhã para nos aquecer.’”
***
Cheguei ao fim da minha conversa contigo, Zé Ninguém. Muitas coisas mais haveria, no entanto, a dizer-te. Mas se me leste com atenção e honestamente descobrir-te-ás agindo como Zé Ninguém mesmo em situações que te não referi, pois que todas as tuas ações e pensamentos têm sempre o mesmo tom.
O que quer que me tenhas feito ou venhas a fazer no futuro, quer me glorifiques como gênio ou me encerres numa instituição psiquiátrica, quer me adores como teu salvador ou me enforques como espião, mais tarde ou mais cedo a necessidade forçar-te-á a entender que descobri as leis da vida e que te depositei nas mãos o instrumento capaz de orientar a tua existência para uma finalidade consciente, como até aqui pudeste fazer com as tuas máquinas. Fui um bom engenheiro do teu organismo. Os teus netos seguirão as minhas pegadas e serão bons engenheiros da natureza humana. Fui eu que te revelei o campo infinitamente vasto da tua própria energia vital, a tua natureza cósmica. Essa é a minha recompensa.
Os ditadores e os tiranos, os aduladores e difamadores e os chacais sofrerão a sorte que outrora lhes foi anunciada por um velho sábio:
Plantei a semente de palavras sagradas neste mundo.
Quando muito depois de morta a palmeira aluir o rochedo;
Quando a magnificência de todos os reis não for mais que podridão das folhas secas;
Através dos dilúvios mil arcas guardarão a minha palavra:
Ela prevalecerá.
Ir para o topo Ir para baixo
https://torcatodevezas.forumeiros.com
 
Escuta Zé-Ninguém-11
Ir para o topo 
Página 1 de 1
 Tópicos semelhantes
-
» Escuta Zé-Ninguém-1
» Escuta Zé-Ninguém-2
» Escuta Zé-Ninguém-3
» Escuta Zé-Ninguém-4
» Escuta Zé-Ninguém-5

Permissões neste sub-fórumNão podes responder a tópicos
Espera aí... :: TEXTO-
Ir para: