Espera aí...
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.
Espera aí...

Apoio aos fóruns amigos
 
InícioInício  Últimas imagensÚltimas imagens  ProcurarProcurar  RegistarRegistar  EntrarEntrar  

 

 Escuta Zé-Ninguém-5

Ir para baixo 
AutorMensagem
Torcato
Admin
Torcato


Mensagens : 311
Data de inscrição : 08/01/2009

Escuta Zé-Ninguém-5 Empty
MensagemAssunto: Escuta Zé-Ninguém-5   Escuta Zé-Ninguém-5 EmptyTer Fev 03, 2009 12:19 pm

Um outro chefe, cheio de entusiasmo pela ditadura do proletariado, não o era menos quanto à economia sexual. Veio ter comigo e disse-me: “Você é extraordinário. Karl Marx mostrou-nos como é possível a liberdade econômica; você aponta-nos a via para a liberdade sexual; foi capaz de nos dizer: Fodam o mais que puderem”. Na tua mente tudo se perverte. Aquilo a que eu chamo um ato de amor, é, na tua vida, um ato pornográfico. E nem sequer sabes do que estou a falar, Zé Ninguém. E é por isso que sempre retornas ao lameiro. Se por acaso tu, Maria Ninguém, dás em professora sem que possuas quaisquer qualificações especiais para tal e apenas porque nunca tiveste filhos, os efeitos da tua ação são desastrosos. O teu trabalho deveria ser comunicar com as crianças e educá-las. Qualquer educação válida engloba um conhecimento da sexualidade infantil. Mas para poder entender a sexualidade infantil é necessário conhecer por experiência própria o que é uma relação de amor. E tu és obesa, desajeitada e sem qualquer atrativo, o que necessariamente te leva a odiar qualquer corpo humano dotado de graça e vivacidade. Não é evidentemente por seres gorda e pouco atraente que te censuro,.nem por jamais teres conhecido o amor de um homem (nenhum que fosse minimamente saudável to teria oferecido), nem sequer pelo fato de não entenderes o amor das crianças. Mas porque tens na conta de virtude a tua total ausência
de atrativos e a tua incapacidade de amar e porque esmagas com o teu ódio a afetividade das crianças a teu cargo, ainda que exerças as tuas funções numa “escola progressista”. O que é um crime e te transforma numa monstruosidade, mulherzinha. A tua influência perniciosa consiste em alienares a afeição que crianças saudáveis sentem por pais saudáveis; em considerares o saudável afeto de uma criança como um sintoma patológico. Em estenderes a toda a tua influência o formato de barril do teu corpo: pensas como um barril, e educas como um barril; em não saberes retirar-te para um lugar modesto e tentares impor aos outros a tua presença opaca, a tua falsidade e o teu ódio amargo sob a máscara do teu falso sorriso.
E tu, Zé Ninguém, porque consentes que sejam estas mulheres a educar os teus filhos ainda saudáveis, porque lhes permites, destilar a amargura no espírito, és o que és, vives como vives, pensas como pensas e o mundo é como é. Vieste procurar-me para tentar aprender aquilo que havia sido o fruto do meu trabalho, aquilo porque me bati e bato. Sem mim terias sido um médico obscuro de clínica geral em qualquer aldeia ou cidade de província. Engrandeci-te através do acesso ao meu conhecimento e às técnicas terapêuticas. Ensinei-te a detectar o modo como é suprimida a liberdade, como a servidão é imposta e mantida. Foi então que assumiste uma posição de responsabilidade como expositor do meu trabalho num outro país - em total liberdade no sentido pleno da palavra Confiei na tua honestidade. Mas tu mantinhas-te dependente de mim, pois por ti próprio pouco ou nada eras capaz de criar. Precisavas de mim como base de conhecimento, como fonte de autoconfiança, perspectiva do futuro e, sobretudo, desenvolvimento. Tudo isto eu te ofereci com alegria, Zé Ninguém, sem nada pedir em troca. Foi então que declaraste que eu te havia “violado”. Tornaste-te agressivo, na esperança de te tornares livre. Confundir porém a imprudência com a liberdade sempre foi a marca do escravo. Na tua tentativa de liberdade deixaste de me enviar relatórios do teu trabalho. Sentias-te livre – liberto da cooperação e da responsabilidade. E é por isso, Zé Ninguém, que és o que és, e é por isso que o mundo é o que é.
Fazes uma idéia, Zé Ninguém, de como se sentiria uma águia que estivesse a chocar ovos de galinha? De começo a águia julga que está a chocar apenas pequenas águias que virão a tomar volume idêntico ao seu. Mas o que acaba por sair são sempre frangos.
Desesperada, a águia espera que os frangos ainda possam vir a ser águias. O tempo passa e o que finalmente surge são galinhas cacarejantes. Então, nasce na águia a tentação de comer frangos e galinhas de uma assentada, e apenas uma pequena réstia de esperança a impede de o fazer. A esperança de que um dia surja do bando de frangos uma pequena águia capaz de sondar a distância a partir dos píncaros, de detectar novos mundos, novas formas. de pensar e viver. E só esta esperança impede a triste e solitária águia de devorar os frangos e galinhas, que nem sequer se dão conta de que uma águia os sustenta e acolhe, que vivem num íngreme rochedo, bem acima dos vales perdidos. Nunca olharam para a distância como a águia solitária. Limitaram-se a engorgitar dia após dia o que a águia lhes trazia de alimento. Deixaram-se aquecer debaixo das suas asas poderosas sempre que chovia ou trovejava, enquanto ela suportava a tempestade sem qualquer proteção. Ou chegaram a atirar-lhe pedras pelas costas, nos piores dias. Quando deu por isso, o primeiro impulso foi desfazê-los, mas, pensando melhor, encheu-se de compaixão. Esperava ainda que algum dia haveria de surgir dos muitos frangos míopes e cacarejantes uma pequena águia capaz de a acompanhar.
Até hoje, a águia ainda não desistiu. De modo que ,continua a criar frangos. Tu não queres ser águia, Zé Ninguém, e é por isso que és comido pelos abutres. Tens medo das águias, e é por isso que vives em grandes bandos e és comido em grandes bandos. Porque algumas das tuas galinhas chocaram os ovos de abutre e os abutres foram então os teus chefes contra as águias, as águias que desejariam ter-te levado mais longe, mais alto. Abutres que te ensinaram a comer cadáveres e a contentar-te com alguns grãos de trigo, a berrar: “Viva, Viva, Abutre!”. E apesar das tuas privações e da tua condenação aos milhares, continuas a ter medo das águias que protegem os teus frangos.
Construíste sobre a areia a tua casa, a tua vida, a tua cultura e a tua civilização, a tua ciência e técnica, o teu amor e a tua educação de crianças. Não o sabes, Zé Ninguém, nem queres sabê-lo, e abates o grande homem que intente dizer-te. Na tua agonia, são sempre as mesmas questões que te afligem:
“O meu filho é obstinado, destrutivo, tem pesadelos de noite, não consegue concentrar-se no trabalho escolar, sofre de prisão de
ventre, tem má cor, é uma criança cruel. Que hei-de fazer? Ajudem-me!”.
Ou: “A minha, mulher é frigida, incapaz de afeto. Agride-me, tem ataques histéricos, anda por aí com vários homens. Que hei-de fazer? Diga-me que hei-de fazer.”
Ou: “Outra guerra, depois de termos lutado numa que deveria pôr fim a todas as outras. Que havemos de fazer ?”
Ou: “A civilização de que tanto nos orgulhamos está a decair num processo de inflação. Há milhões de pessoas com fome, gente que mata, rouba, destrói e abandona toda a esperança. Que havemos de fazer?”
“Que havemos de fazer?” Eis a tua interrogação milenar.
O destino de toda a aquisição cultural importante, firmada na prevalência da verdade sobre a segurança, é o de ser avidamente devorada e em seguida expelida pelo homem comum. Muitos foram os homens corajosos e solitários que te disseram o que deverias fazer. E sempre distorceste o que te era comunicado, sempre os conduziste à amargura e à destruição. Sempre lhes pegaste na palavra pela ponta errada, preferindo como regra de vida a pequena margem de erro à grande verdade; no cristianismo, na formação socialista, no conceito de soberania popular, em tudo o que tocaste, Zé Ninguém. Perguntas porque é assim, porque és assim? Não creio que ponhas a questão a sério e vais odiar-me quando ouvires a verdade: construíste a tua casa sobre a areia e agiste assim ao longo dos séculos porque és incapaz de respeitar a vida, porque até o amor dos teus filhos destróis antes que tenha tido tempo de desabrochar, porque não suportas nenhuma forma de espontaneidade viva, nenhum movimento livre e natural. E porque não podes tolerá-lo, entras em pânico e perguntas: “Quem é o Sr. Silva e o que é que irá dizer o Sr. Pereira?” És covarde na tua atividade intelectual, porque a atividade intelectual fecunda acompanha a vitalidade e o movimento do corpo, e tu temes o teu corpo. Muitos foram os grandes homens que te disseram: escuta a tua voz interior – segue a verdade do que sentes – venera o teu amor. Mas tu não deste atenção a tais palavras. Foram palavras perdidas no deserto, apelos mortos no vazio do teu nada, Zé Ninguém.
Foi-te oferecida a escolha entre a exigência de superação do Übermensch de Nietzsche e a degradação do Üntermensch em Hitler. Berrando “Viva”, escolheste o Üntermensch.
Foi-te dado a escolher entre a constituição genuinamente democrática de Lenin e a ditadura de Stalin escolheste a ditadura de Stalin.
Tiveste a escolha entre a elucidação de Freud da origem sexual das tuas perturbações emocionais e a sua teoria da adaptação cultural. Escolheste a sua filosofia cultural, que não te trazia qualquer apoio, e esqueceste a teoria sexual. Pudeste escolher entre a magnificente simplicidade de Cristo e Paulo, com o seu celibato para os padres e o seu casamento indissolúvel. Escolheste o celibato e o casamento indissolúvel esquecendo a mulher simples que pariu seu filho, Jesus, apenas por amor. Tiveste a escolha entre a concepção de Marx da produtividade do teu poder de trabalho como única fonte do valor dos produtos e a concepção de Estado. Esqueceste a tua força de trabalho e escolheste a idéia de Estado. Durante a Revolução Francesa tinhas a escolher entre o cruel Robespierre e o grande Danton. Escolheste a crueldade e enclausuraste a grandeza de alma e a bondade. Na Alemanha, tinhas a escolha entre Göering e Himmler, por um lado, e Liebknecht, Landau e Mühsam, no pólo oposto. Deste a Himmler o cargo de chefe de polícia e assassinaste os teus verdadeiros amigos. Tinhas a escolher entre Julius Streicher e Walter Rathenau – assassinaste Rathenau.
Tinhas a escolher entre Lodge e Wilson - assassinaste Wilson. Poderias ter escolhido entre a crueldade da Inquisição e a verdade de Galileu. Escolheste torturar Galileu, de cujas descobertas ainda hoje beneficias, submetendo-o a toda a espécie de humilhações, e, em pleno século XX, continuas a utilizar os mesmos métodos da Inquisição.
Tens a escolher entre a compreensão da doença mental e as terapêuticas de choque – escolhes estas, de modo a não teres de enfrentar as dimensões monstruosas da tua própria miséria, preferindo a cegueira onde só de olhos bem abertos te poderias salvar.
Tens de escolher entre a ignorância da natureza da célula cancerosa e o que me foi possível desvendar dos seus segredos, a salvação possível de milhões de vidas humanas. Mas continuas a repetir as mesmas asneiras acerca do cancro em jornais e revistas, mantendo o silêncio sobre o que poderia salvar o teu filho, a tua mulher ou a tua mãe. Morres de fome, mas defendes dos maometanos a sacralidade das tuas vacas, Zé Ninguém indiano. Andas esfarrapado, Zé Ninguém de Itália e Eslavo de Trieste, mas o que mais parece ralar-te é saber se Trieste é “italiano” ou “eslavo”. Sempre pensei que Trieste fosse um porto internacional. Enforcas os nazis depois de terem assassinado milhões de pessoas. Onde é que estavas antes? Dezenas de cadáveres não bastam para fazer-te pensar, apenas milhões? Cada um destes atos mesquinhos dá sinal da tua monstruosidade de animal humano. Dizes: “Mas porque diabo levas tudo isto tão a sério? Sentes-te responsável por todo o mal?” Esta é a questão que te condena. Se tu, Zé Ninguém, saldo das fileiras de milhões como tu, tomasses a teu cargo apenas uma pequena parcela da tua responsabilidade, o mundo não seria o mesmo e todos os -grandes que te estimam não seriam condenados à morte pela tua mesquinhez. É, porque não assumes qualquer responsabilidade que a tua casa assenta sobre areia. O teto abate-se sobre a tua cabeça, mas conservas a honra “proletária” ou “nacional”. O chão esvai-se-te debaixo dos pés, mas continuas a berrar: “viva, grande chefe, viva a Alemanha, a Rússia, o povo judeu!” Os teus filhos agonizam, mas continuas a preconizar “a disciplina e a ordem” que lhes impões batendo. A tua mulher adoece, mas tu consideras que construir a tua casa sobre um rochedo não passa de mais uma “fantasia de judeu”.
Na tua enorme aflição vens ter comigo e dizes-me: “Meu Bom, Querido e Extraordinário Doutor! Que hei-de fazer? A minha casa esboroa-se, o vento sopra-lhe dentro, a minha mulher e os meus filhos estão doentes e eu também. Que hei-de fazer?” A resposta é: constrói a tua casa sobre um rochedo. Rochedo que és tu próprio, a tua própria natureza destorcida, o amor físico dos teus filhos, a esperança amorosa da tua mulher, o que esperavas da vida aos 16 anos. Troca as tuas ilusões por um pouco de verdade. Manda os teus políticos e diplomatas dar uma volta. Esquece o teu vizinho e escuta a tua própria voz – o teu vizinho fica-te grato. Diz aos teus camaradas de trabalho que desejas trabalhar em nome da vida, não ao serviço da morte. Não corras para assistir às execuções dos teus
carrascos e vitimas, cria as leis que protegem a vida humana e os seus bens. Leis essas que serão os pilares de rocha viva onde assentares a tua casa. Protege o amor das crianças de tenra idade dos ataques de adultos lascivos e frustrados. Não aceites a solteirona intriguista - expõe publicamente os seus malefícios ou manda-a para o reformatório, em vez de lá abandonares adolescentes carecidos de afeto; se a tua posição profissional é de direção. Não tentes ser mais explorador que quem tenta explorar-te. Deita fora as tuas calças de fantasia e o teu chapéu alto e não peças autorização oficial para amares a tua mulher. Cantata com gentes de outros países, pois são teus semelhantes, no que tens de bom e de mau. Deixa, pois, que o teu filho cresça como a natureza (ou “Deus”) o gerou. Não tentes melhorar a natureza, mas antes entendê-la e protegê-la. Vai às bibliotecas em vez de ires assistir a espetáculos de competição, viaja por outros países e. vez de ires a Coney Island. E, acima de tudo, procura PENSAR CORRECTAMENTE, ouve a tua voz interior e o seu murmúrio brando. Tens a vida nas tuas mãos. Não a entregues a outrem e muito menos aos chefes que elegeres. SÊ TU PRÓPRIO.
Ir para o topo Ir para baixo
https://torcatodevezas.forumeiros.com
 
Escuta Zé-Ninguém-5
Ir para o topo 
Página 1 de 1
 Tópicos semelhantes
-
» Escuta Zé-Ninguém-3
» Escuta Zé-Ninguém-4
» Escuta Zé-Ninguém-6
» Escuta Zé-Ninguém-7
» Escuta Zé-Ninguém-8

Permissões neste sub-fórumNão podes responder a tópicos
Espera aí... :: TEXTO-
Ir para: