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 Escuta Zé-Ninguém-7

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Torcato
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MensagemAssunto: Escuta Zé-Ninguém-7   Escuta Zé-Ninguém-7 EmptyTer Fev 03, 2009 12:27 pm

Quase me assassinaste também, Zé Ninguém. Lembras-te do meu laboratório, há dois anos? Eras então um simples assistente. Estavas desempregado e havias-me sido recomendado como
socialista eminente, membro de um partido governamental. Recebeste um bom salário e eras livre, no pleno sentido da palavra. Inclui-te em todas as minhas deliberações, porque acreditei em ti e na tua missão. Lembras-te do que se passou? A liberdade subiu-te à cabeça. Durante dias, vi-te passeando de cachimbo na boca, sem fazer literalmente nada e sem que eu entendesse porquê. De manhã, quando eu chegava ao laboratório, esperavas em ar de provocação que fosse eu o primeiro a saudar-te. Eu gosto de saudar as pessoas em primeiro lugar, Zé Ninguém. Mas se esperam que eu o faça, isso aborrece-me porque, no teu entender das coisas, sou eu o teu “superior hierárquico”, o teu “patrão”. Deixei-te abusar da tua liberdade durante alguns dias e depois decidi-me a ter uma conversa contigo. Admitiste então, com lágrimas nos olhos, que não sabias o que fazer integrado neste novo sistema. Não estavas habituado à liberdade. No anterior local de trabalho nem sequer eras autorizado a fumar diante do teu chefe, partia-se do princípio que só abrias a boca quando te dirigiam a palavra, a ti, futuro chefe de todos os proletários. E quando te encontravas perante a liberdade genuína, a tua atitude era de impertinência e provocação. Entendi-te e conservei-te no lugar. Pouco tempo depois despediste-te e foste relatar tudo o que sabias das minhas experiências a um psiquiatra “policial”. Foste tu o informador secreto, um dos hipócritas e delatores que instigaram a campanha de imprensa que se desencadeou contra mim. És assim, Zé Ninguém, sempre que te é dado a provar a liberdade-só que, contrariamente às tuas intenções, a tua campanha fez o meu trabalho avançar dez anos no tempo. Por isso te abandono, Zé Ninguém. Não mais estarei ao teu serviço, nem é minha intenção condenar-me a morte lenta por teu amor. Não poderás seguir-me na trajetória que me impus. Ficarias aterrorizado se tivesses alguma idéia do que te espera no futuro. Porque a partir da agora és tu quem governa o futuro e as minhas conquistas solitárias farão parte do teu futuro. Mas não te quero como companheiro de viagem – como companheiro, só és inofensivo à mesa de um bar, nunca para onde eu vou.
“Fora com ele! Este homem ridiculariza a civilização que eu, o homem comum, ajudei a Construir. Sou um homem livre numa democracia livre!”
Tu és o nada, Zé Ninguém, o nada absoluto. Não foste tu quem construiu esta civilização, mas sim um punhado dos teus melhores mestres. Quando te encontras integrado num processo de
construção não fazes a menor idéia de que construção se trata. E quando alguém te solicita para que tomes a responsabilidade da construção chamas-lhe “traidor do proletariado” e corres a acolher-te junto do Pai de Todos os Proletários, que não te solicita.
Nem és livre, Zé Ninguém. Não fazes a menor idéia do que é viver em liberdade. Não foste tu quem disseminou a peste emocional na Europa e na América? Pensa em Wilson.
“Ouçam, mas este tipo acusa-me a mim, um Zé Ninguém! Que poder tenho eu para influenciar o presidente dos Estados Unidos? Eu cumpro o meu dever, faço o que me manda o meu patrão e não me meto em altas políticas”.
E quando arrastas milhares de homens, mulheres e crianças para as câmaras de gás, mais não fazes que cumprir o que te mandam, não é assim, Zé Ninguém? És tão inofensivo que nem sequer te dás conta do que se passa. És um pobre diabo que nada tem a dizer, sem opinião própria; quem és tu para te meteres na política? Eu sei, já te ouvi a mesma tirada com freqüência. Mas deixa-me perguntar-te: porque não cumpres o teu dever quando alguém te afirma que és responsável pelo teu trabalho, ou que não deves bater nas crianças, ou seguir ditadores? Onde está então o teu sentido do dever, a tua inócua obediência? Não, Zé Ninguém, tu não ouves quando fala a verdade, só podes ouvir o ruído sem sentido. E gritas então “Viva!”. És cobarde e cruel, sem o mínimo senso do teu verdadeiro dever, o de ser humano e preservar a tua humanidade. És uma medíocre imitação do sábio e extraordinária a da do ladrão. Os teus filmes, programas de rádio e histórias de quadradinhos abundam em toda a espécie de crimes. Terás de arrastar ainda durante séculos a tua mediocridade antes de poderes tornar-te senhor de ti próprio. Se me separo de ti é a fim de melhor poder servir o teu futuro. Porque à distância não podes atingir-me e tens mais respeito pelo meu trabalho. Desprezas o que te está perto. Colocas os teus lideres em pedestais porque doutra forma não poderias “fazer de conta” que os respeitas. É, por isso que, desde que a história é história, os grandes homens sempre souberam manter-te à distância.
“O tipo é megalomaníaco! Está completamente doido!”
Eu conheço a facilidade com que diagnosticas de loucura toda a verdade que te desagrada, Zé Ninguém. E como te consideras o
espécime acabado do homo normalis. Duma maneira ou de outra, condenas à reclusão os loucos, e são as pessoas normais que governam o mundo. A quem pedir contas, então, de toda essa miséria? A ti, nunca, tu apenas cumpres o teu dever, e quem és tu para poderes emitir uma opinião própria? Eu sei, não precisas de o repetir. Não és tu que contas, Zé Ninguém. Mas quando penso nos teus filhos recém-nascidos, no modo como os torturas a fim de os transformar em criaturas “normais” à tua imagem e semelhança, sou tentado a aproximar-me de ti novamente a fim de impedir os teus crimes. Mas sei também que tiveste o cuidado de proteger-te a ti próprio através de uma instituição como o Conselho de Educação. Gostaria de levar-te a dar uma volta comigo por este mundo, Zé Ninguém, e mostrar-te o que és e o que foste, no presente e no passado, em Viena, em Londres, em Berlim, como “representante do poder popular”, como membro de algum credo. Poderias encontrar-te em toda a parte e reconhecer-te, quer fosses francês, alemão ou hotentote, se tivesses a coragem de olhar para ti próprio.
“Ouçam-no! Agora insulta-me, ofende a minha honra! Ridiculariza a minha missão!”
Não é isso o que tento fazer, Zé Ninguém. Muita alegria me darias se me contradissesses, se me desses provas de que és capaz de olhar para ti e reconhecer-te.
É, necessário que dês provas, o mesmo tipo de provas que se exigem dum construtor civil: a casa tem de ser visível e habitável. Não tem o direito de berrar que alguém lhe lesa a honra quando afirma que ele apenas discursa sobre a “missão do construtor civil” sem realmente construir o que quer que seja. Do mesmo modo te exijo que proves que és o suporte do futuro da humanidade. Deixa de usar covardemente os chavões da “honra da nação” ou do “proletariado” para te esconderes – para mim, já tens à mostra demasiado do que realmente és.
Tal como ia dizendo, aqui te deixo. A reflexão de muitos anos e muitas noites sem dormir levaram-me à necessidade de o fazer. Os teus futuros chefes de todos os proletários são bem menos complicados. Um dia são teus lideres, amanhã serão capazes de fazer o que quer que seja para continuarem a desempenhar qualquer cargo. Mudam de convicções como quem muda de camisa. Eu não. Continuo a estimar-te e a preocupar-me com o teu destino.
Mas uma vez que és incapaz de respeitar quem quer que seja que te esteja perto, é necessário criar entre nós certa distância. Serão os teus bisnetos os herdeiros do meu trabalho, e por eles esperarei a fim de poder gozar os meus frutos, tal como durante trinta anos o esperei de ti. Tu, no entanto, continuaste berrando: “Abaixo o capitalismo!”, ou “Abaixo a Constituição americana!”.
Vem comigo, Zé Ninguém. Vou mostrar-te alguns quadros da tua vida quotidiana. Não fujas. Serão odiosos, mas salutares, e o todo não é tão terrivelmente perigoso. Há cem anos, aprendeste a papaguear os físicos que construíram máquinas e te diziam que o espírito não existe. Surgiu então um grande homem que te demonstrou o teu próprio funcionamento psíquico, só que desconhecia a conexão entre o teu espírito e o teu corpo. Disseste então: “Ridículo! Psicanálise! Charlatanices! Pode-se analisar a urina, não se pode analisar a psique humana”. Disseste-o porque em matéria de medicina pouco mais sabias para além da análise de urinas. A luta pelo espírito durou aproximadamente quarenta anos. Conheço bem os meandros dessa luta, porque a partilhei em teu nome. Descobriste então que se pode ganhar muito dinheiro com as perturbações da mente humana. Basta fazer com que um doente venha diariamente durante uma hora ao longo de alguns anos e que essa hora a pague caro.
Então, e só então, começaste a acreditar na existência do espírito, enquanto, concomitantemente; se ia consolidando o conhecimento do teu corpo, Descobri que o teu espírito é uma função da tua energia vital, isto é, por outras palavras, que existe uma unidade entre o corpo e o espírito. Esta foi a linha de reflexão e investigação que segui, chegando à conclusão de que expandes essa energia vital sempre que te sentes bem e afetivamente seguro e que a retrais para dentro do teu próprio corpo sempre que tens medo. Durante quinze anos mantiveste-te silencioso quanto ao conteúdo destas conclusões. O que não me impediu de prosseguir a mesma via e de descobrir que esta energia vital, à qual dei o nome de “orgone”, se encontra também presente na atmosfera, fora do teu corpo. Consegui torná-la visível na escuridão e montar aparelhagem capaz de a amplificar e tornar luminosa. Enquanto tu jogavas às cartas, ou te entretinhas a torturar a tua mulher e os teus filhos, eu permaneci várias horas por dia, durante dois longos anos, na minha câmara escura, procurando certificar-me de que havia realmente
isolado a tua energia vital. Gradualmente, aprendi a demonstrá-lo a outros e a constatar que lhes era possível verificar o mesmo que eu.
Mas tu, na tua qualidade de médico crente de que o psíquico é apenas uma secreção das glândulas endócrinas, apressas-te a afirmar a um dos meus doentes recuperados que o meu sucesso terapêutico foi apenas a resultado de “sugestão”.Ou, sofrendo como sofres de dúvidas obsessivas e fobias relacionadas com a obscuridade, afirmas em relação aos fenômenos que acabas de observar que também eles se devem à “sugestão” ou que te sentes como que saído de uma sessão espírita. És assim, Zé Ninguém. Em 1945 utilizas as mesmas reflexões asnáticas sobre a “alma” que em 1922 utilizavas para lhe negar a existência. Continuas sendo o mesmo Zé Ninguém. Em 1984 continuarás de ânimo leve a ganhar dinheiro com o orgone e, igualmente de ânimo leve, a difamar, a abafar no silêncio e a tentar destruir qualquer outra verdade, tal como o fizeste com a descoberta do psíquico e da energia cósmica. E permanecerás o mesmo Zé Ninguém cheio de “espírito crítico”, berrando “Viva!” a este e àquele. Lembras-te do que disseste da descoberta de que a Terra não é imóvel, mas gira sobre si própria e se move no espaço? Não tiveste outra resposta senão a graça estúpida de que, a partir de então, os copos passariam a tombar das bandejas dos criados. Foi há alguns séculos, de modo que já esqueceste, Zé Ninguém. Tudo o que sabes de Newton é “que lhe caiu uma maçã na cabeça” e tudo o que sabes de Rousseau é que preconizava o “retorno à natureza”.A única coisa que aprendeste com Darwin foi a “sobrevivência dos mais aptos”, não as tuas origens como primata. Do Fausto de Goethe, que tanto te agrada citar, entendeste tanto como um gato entende de matemática. És estúpido e vaidoso, vazio e macaqueante, Zé Ninguém. Sempre encontras forma de desvirtuar o essencial e assimilar o errôneo. O teu Napoleão, esse homenzinho de galões doirados, que nada nos legou senão o cumprimento obrigatório do serviço militar, surge nas tuas livrarias todo encadernado a doirados, enquanto o meu Kepler, que teve a intuição da tua origem cósmica, não se pode encontrar em nenhuma livraria. É por isso que continuas no lameiro, Zé Ninguém. É, por isso, que me vejo obrigado a contradizer-te cada vez que pareces estar convencido de que eu trabalhei e lutei durante vinte anos, que sacrifiquei enormes quantias, apenas para te “sugerir” a existência da energia cósmica do orgone. Não, Zé Ninguém, aprendi realmente a sanear o mal que te aflige, coisa que
não podes crer. Bem te ouvi afirmar na Noruega que “quem quer que seja que gaste uma tal quantia em meras experiências deve ser completamente louco”. Claro! Julgas por ti próprio. Só te é possível tirar, dar nunca, por isso te é inconcebível que quem quer que seja possa ter alegria na dádiva, tal como te é inconcebível a hipótese de estar com uma mulher sem que imediatamente se te ponha a questão de a “comer”.
Talvez me fosse possível respeitar-te se fosses ao menos grande quando “roubas” felicidade. Mas até nisso és medíocre. Não és ignorante, mas como o teu estado psíquico habitual é de prisão de ventre, és incapaz de criar – roubas o osso e rastejas para o primeiro buraco onde possas roê-lo em paz, tal como Freud um dia te disse. Atracas-te ao primeiro indivíduo generoso que encontras e secá-lo até à medula no que tenha para dar-te. E é a ele que chamas idiota. Devoras-lhe o que possa dar-te de sabedoria, de alegria, de grandeza, mas és incapaz de digerir o que dele te venha. Sai-te nas fezes, e o fedor que exala é pavoroso. Ou, para salvaguardares a tua dignidade após o que é realmente uma violação e um furto, chamas-lhe alienado, charlatão ou perverso sexual.
Ora aí temos: “Perverso sexual”.Lembras-te, Zé Ninguém (eras tu presidente de uma sociedade científica), de como te foi necessário espalhar o boato de que eu encorajava.os meus filhos a assistirem ao ato sexual? Passou-se isto pouco depois de eu ter publicado o meu primeiro artigo sobre os direitas da criança à atividade genital. De uma outra vez (eras presidente temporário de uma espécie de associação cultural de Berlim) fizeste correr que eu saía de carro para o campo com adolescentes a fim de as seduzir. Nunca seduzi adolescentes, Zé Ninguém. A obscenidade da fantasia é tua, não minha. Amo a minha mulher e a minha filha – é a tua incapacidade de amares as tuas que te leva ao desejo inconfessável de andar pelos bosques seduzindo rapariguinhas.
E tu, rapariguinha, não é verdade que sonhas com o “másculo” ídolo cinematográfico? Não és tu que levas a sua fotografia contigo para a cama? Que fazes o jogo da aproximação e da sedução, afirmando-te como maior de 18 anos? E não és tu ainda que o acusas em tribunal de crime de violação? E imaculada de culpas ou condenada, serão as tuas avós que continuarão a beijar-lhe as mãos.
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