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 Escuta Zé-Ninguém-8

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Torcato
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MensagemAssunto: Escuta Zé-Ninguém-8   Escuta Zé-Ninguém-8 EmptyTer Fev 03, 2009 12:31 pm

Querias ir para a cama com ele, mas foste incapaz de assumir a responsabilidade. Por isso o acusas, pobre menina violada. Ou tu, mulher madura, também dita violada, que conheceste maior prazer na relação sexual com o teu motorista que com o teu marido. Não foste tu que o seduziste por lhe sentires mais sã a sua sexualidade de homem de cor? E não foi então que o acusaste de crime, a ele que não possuía apoios, vitima da sua condição de “raça inferior”? Evidentemente que não, tu és pura e branca, os teus antepassados vieram no May-flower, és “Filha Desta ou Daquela Revolução”, Nortista ou Sulista, cujo avô enriqueceu à custa da escravatura negra. Como és inocente, pura, branca, como é inexistente o teu desejo do Negro, pobre criatura. Miserável cobarde, descendente de uma raça de caçadores de escravos, descendente de um Cortês que atraiu milhares de astecas confiantes à emboscada onde os exterminou. Desgraçadas filhas desta ou daquela revolução. Mas qual é a vossa concepção da emancipação? Que fizeram do esforço dos revolucionários americanos, dos esforços de Lincoln, que vos libertou os escravos para serem entregues agora ao “mercado livre da competição”? Olhem para o espelho, filhas de revoluções – vejam como são idênticas às “Filhas da Revolução Russa”, meninas inocentes e castas.
Se ao menos uma vez na vida vos houvesse sido possível dar amor a um homem, quantas vidas de negros, de judeus, de trabalhadores, poderiam ter sido salvas. Tal como esmagais a vida de vossos filhos, assim vos aproximais dos negros para matar em vós próprias o pouco que resta do impulso de amar, a fantasia pornográfica e frívola da luxúria. Como eu vos conheço, filhas e mulheres da alta finança, e a toda a vileza contida nos vossos sexos mortos. Não, filhas desta ou daquela revolução, não tenho a menor intenção de me tornar um L.L.D. ou comissário, cargo que deixo de bom grado às rígidas criaturas em uniforme que vos comandam. Guardo o meu amor para os pássaros e esquilos, os animais livres que tão perto estão dos negros, não os negros de Harlem, com os seus colarinhos engomados e fatiotas rígidas, mas os negros integrados nas suas tribos na floresta. Não as rotundas mulheres negras de argolas nas orelhas, cujo prazer negado lhes arredonda os flancos até ao absurdo, mas os corpos esbeltos e suaves das raparigas dos mares do Sul, em cujas carnes se compraz a vileza dos homens deste ou daquele exército, raparigas que desconhecem que o seu amor. puro é “usado” como numa relação de bordel.
Não, menina, tu desejas a vida que não entendeu ainda até que ponto é explorada e desprezada. Só que os teus dias estão contados. A tua versão “virgem da raça germânica” foi extinta - ainda subsistes como “virgem da classe proletária” na Rússia, ou como “filha da Revolução Universal”. Mas daqui a uns quinhentos, a uns mil anos, quando rapazes e raparigas saudáveis puderem enfim proteger o amor e nele achar alegria, nada mais restará de ti do que a memória do teu ridículo.
Não foste tu que recusaste ouvir a maravilhosa voz vibrante de vida de Marian Anderson, tu, mulherzinha cancerosa? O seu nome permanecerá na música dos séculos, quando já nada restar de ti. Pergunto a mim próprio se também a ela lhe é possível pensar em termos de séculos, ou se faz parte do número dos que proíbem o amor de seus filhos. Ignoro-o – os verdadeiros vivos ora correm ora vagueiam. A própria vida os satisfaz – a verdadeira vida que tu desconheces, mulherzinha putrefata.
Inventaste o mito de que representas “A SOCIEDADE”, mito que o teu Zé Ninguém se apressou a ratificar de alma e coração. Não o és. É verdade que continuas a anunciar quotidianamente no teu jornal judeu ou cristão que e quando se vai a tua filha deitar com um homem, mas qual é o indivíduo com o mínimo de senso a quem tal coisa interessa? “A Sociedade” sou eu e o carpinteiro e o jardineiro e o professor e o médico e o operário. Isto, e não tu, criatura rígida, dissimulando a tua putrefação. Tu não és a vida, mas sim a sua distorção. Mas entendo porque te retiraste para a tua fortaleza de bens e poder - que outra coisa poderias fazer face à mesquinhez dos carpinteiros, jardineiros, médicos, professores e operários? Sendo o horror que é, a tua retirada justifica-se. Mas a mesquinhez e a vileza estão-te nos ossos, na tua prisão de ventre, no teu reumatismo, na tua dissimulação, na tua negação da vida. És desgraçada, mulher, porque os teus filhos se destroem, as tuas filhas se prostituem, os teus homens secam. e a tua vida se putrefaz, e com ela os teus tecidos. E não me inventes histórias, Filha da Revolução; eu já te vi completamente nua.
És covarde e sempre o foste. Tiveste a felicidade nas mãos e deixaste-a fugir. Pariste presidentes e infectaste-os com a tua vileza. Deixam-se fotografar a pendurar medalhas nas pessoas em perpétuo sorriso, e não se atrevem a nomear as coisas pelo seu nome. Tiveste o mundo nas tuas mãos e lançaste-lhe em Hiroxima e
Nagasaqui as tuas bombas atômicas – isto é, o teu filho fê-lo por ti. Cavaste o teu túmulo por tuas próprias mãos, mulherzinha cancerosa. Com uma, só destas bombas, aniquilaste para sempre a tua classe e toda a tua casta. Porque não tiveste sequer a humanidade de avisar os homens, as mulheres e as crianças de Hiroxima e Nagasaqui. Nem um gesto de grandeza, e por esse gesto não cumprido toda a tua espécie desaparecerá como um seixo largado no oceano. Nem importa o que possas ter a dizer ou penses, pobre parideira de tantos mentecaptos – daqui a; quinhentos anos serás motivo apenas de pasmo e gáudio. Que o não sejas já é apenas parcela da miséria do mundo. Sei o que vais dizer, criatura. Todas as aparências são a teu favor; “a defesa do país” etc. Usou-se o mesmo argumento outrora na velha Áustria. Nunca ouviste um cocheiro vienense berrar: “Viva o meu Kaiser!” Pois é a mesma música. Não, desgraçada, de ti não tenho medo -não há nada que possas fazer-me. É verdade que o teu genro é vice-presidente da Câmara ou que o teu sobrinho é alto funcionário do Ministério das Finanças. Mais chazinho, menos chazinho e vais-lhes dizendo umas coisas a meu respeito. Ao indivíduo que quer passar a presidente da Câmara ou a diretor-geral não há-de deixar de convir a utilização duma vítima em nome da “Lei e da Ordem”. Bem sei como se mexem os cordelinhos, mas não há-de ser isso que te safa – a minha verdade tem mais força do que tu.
“O homem é um obcecado, um fanático! Será que eu não tenho nenhuma função na sociedade?”
Apenas te demonstrei que és medíocre e vil, Zé Ninguém, tu e a tua mulher - ainda nem sequer mencionei a tua utilidade e importância. Ou julgas que arriscava o pescoço numa conversa destas se não te achasse importante? Toda a tua mesquinhez e vileza é bem mais grave se vista à luz da tua imensa responsabilidade e importância. Afirma-se habitualmente que és estúpido – ora, eu sei-te inteligente, mas cobarde. Afirmam-te que és a escória da humanidade – eu diria que és a sementeira. Diz-se ainda que a cultura carece da experiência de escravos. Eu afirmo que nenhuma cultura pode ser edificada sobre qualquer forma de escravatura. A monstruosidade deste nosso século tornou ridícula toda e qualquer evolução cultural a partir de Platão. A cultura humana ainda nem sequer existe, Zé Ninguém! Começamos agora a entender a patológica degenerescência do animal humano. Esta “conversa com o Zé Ninguém” ou qualquer outro escrito válido que
possa ser publicado hoje em dia estará para a cultura de daqui a mil ou cinco mil anos como a primeira roda de há milênios está para as locomotivas diesel dos nossos dias.
Pensas sempre a curto prazo, Zé Ninguém, o teu tempo medeia de uma refeição a outra. Terás de aprender a memória em termos de séculos, e a perspectiva do futuro em termos de milênios. Terás de aprendê-la em termos da verdadeira vida, em termos do teu desenvolvimento desde o primeiro floco plasmático até ao animal humano, capaz de caminhar ereto, mas incapaz ainda de pensar com justeza. Porque a tua memória não retém acontecimentos de há dez ou vinte anos, continuas repetindo as mesmas asneiras de há dois milênios. E mais ainda: agarras-te a elas – à tua “raça”, “classe”, “nação”, aos teus ritos religiosos compulsivos, à supressão do amor, como um piolho se aferra à pele. Nem te atreves a ver até que ponto te encontras atolado na tua miséria. De vez em quando, pões a cabeça pra fora e berras “Viva!”. O coaxar duma rã no charco tem pelo menos mais sentido.
“Porque não me tiras então do lameiro? Porque não participas nas minhas reuniões do partido, nos meus parlamentos, nas minhas conferências diplomáticas? És um traidor! Dizes que lutaste por mim, que sofreste e que te sacrificaste, e agora insultas-me!”
Eu não posso arrancar-te do lameiro. Só tu podes fazê-lo. Nunca participei dos teus círculos e conferências porque a regra de ouro consiste em “calar o essencial”, “falar apenas do acessório”. É verdade que durante vinte e cinco anos lutei por ti, te sacrifiquei a minha segurança profissional e a paz da minha família; financiei organizações tuas, participei em marchas e manifestações de protesto. É verdade que, na minha qualidade de médico, te dei milhares de horas, sem receber qualquer compensação – errei de país em país por tua causa, substituindo-te muitas vezes quando a voz se te apagava no calor dos brados. Fui literalmente capaz de arriscar a vida por ti, no tempo da grande praga política, quando te transportava clandestinamente a melhor abrigo, sob pena de morte se descoberto; ajudei a proteger os teus filhos das investidas da policia contra as suas manifestações públicas - e gastei tudo quanto me restava na criação de instituições de saúde mental onde fosse possível achar orientação e apoio. Mas tu nada tiveste para me dar em troca. Querias ser salvo, mas nem uma só vez no decorrer destes trinta monstruosos anos de peste emocional foste capaz de
gerar uma única idéia fecunda. E uma vez finda a segunda guerra mundial encontras-te exatamente no mesmo ponto onde estavas quando ela começou; talvez uns milímetros mais à “esquerda” que à “direita”, mas para frente, nada! Malbarataste as aquisições da luta francesa pela emancipação, e até a extraordinária emancipação russa conseguiste transformar em aborto aos olhos do mundo. O teu falhanço, que foi, e que só espíritos verdadeiramente grandes e isolados podem entender sem cólera, sem desprezo, foi causa do desespero em todo o mundo de todos aqueles dispostos a sacrificar-te tudo. Durante todos esses anos de horror, essa sangrenta metade de século, nem uma só palavra se te ouviu que não fosse banal, nem uma só palavra de bálsamo ou sequer de bom senso.
No entanto, não desanimei de todo, pois aprendi a conhecer-te ainda melhor e mais profundamente. Entendi que não te era possível pensar ou agir de outro modo. Reconheci então o medo mortal que te suscita toda a forma de vida, medo que sempre ameaça a continuidade de tudo o que tentes de genuíno e certo. Tu não podes entender que o conhecimento seja fonte de esperança. A esperança, para ti, sempre terá de vir dos outros, nunca de ti próprio. É por isso que, face à minha atitude perante o colapso do teu mundo, me chamas “otimista”, Zé Ninguém. E queres saber porque sou otimista e crente no futuro? Ouve:
Enquanto fui ficando agarrado a ti, tal como foste e continuas sendo, fui levando pontapés, vítima da tua curteza de vistas. Vez após vez esqueci as ofensas que se seguiam ao apoio que te dava, mil vezes fui forçado a ter em conta a tua insanidade. Até que abri os o lhos e te vi - o primeiro movimento foi de desprezo e cólera, mas aprendi gradualmente a substitui-los pela compreensão do mal que te afeta. Não mais senti raiva perante o colapso da tua primeira tentativa de possuíres a terra. Comecei antes a entender que esse fora o único resultado possível após milhares de anos de repressão da verdadeira vida.
Enunciei a lei funcional do que vive, Zé Ninguém, ao tempo em que andavas por ai espalhando a minha insanidade. Eras então um psiquiatra insignificante, com uma certa experiência de movimentos de juventude e com altas probabilidades de uma futura afecção cardíaca, dado que eras impotente – morreste, pois, anos mais tarde, literalmente de coração partido, pois não é impunentemente
que se rouba e difama quem quer que seja; na desonestidade é a própria vida que está em causa se um mínimo de pureza ainda sobrevive escondido em ti. E tu possuías essa ínfima centelha, Zé Ninguém. Quando te passaste de amigo para inimigo, pensaste que eu estava “pronto” e deste-me o pontapé final, porque sabias que eu tinha razão e que não te era possível seguir-me. Quando anos mais tarde eu voltei à liça, qual teimoso “sempre-em-pé”,. e agora mais forte, mais exato e determinado que nunca, apanhaste o susto que te foi mortal. Tiveste, porém, tempo de verificar quais os abismos que fui forçado a transpor, o terreno instável que havias preparado para a minha queda. Porque proclamaste como teus, nas tuas tão prudentes organizações, conhecimentos a que só eu te dera acesso? Afirmo-te que a gente honesta que te rodeava o sabia; sei-o porque mo disseram. A tática, a tua, Zé Ninguém, é a via mais rápida para a morte prematura.
E porque a vida a teu lado é demasiado arriscada, porque na tua proximidade é impossível servir a verdade sem ser esfaqueado pelas costas e enlameado no rosto, optei pela separação. E repito-o -não a separação do teu futuro, mas da tua proximidade. Não a da tua humanidade, mas a da tua desumanidade e mesquinhez.
Mantenho-me capaz de sacrifício em nome da verdadeira vida - não por ti, Zé Ninguém. Só há bem pouco me dei conta do tremendo erro no qual laborei durante vinte e cinco anos: dediquei-me à tua pessoa e à tua forma de vida, crente de que tu eras a vida, a inteireza simples, o futuro e a esperança. Tal como eu, outros foram os que, desprevenidos e de boa fé, em ti procuraram achar o sentido da vida. Nem um só sobreviveu. Sendo assim, decidi-me a não me deixar morrer vitimado pela tua estreiteza de vistas e tua mesquinhez. Porque creio na importância do que faço. Descobri a vida, Zé Ninguém - mas já não cometo o grave erro de confundir-te com o que de vivo pude achar em mim próprio e em ti procurei.
A minha contribuição real para a segurança do que é deveras vivo e do teu futuro só será possível se puder, de forma bem clara e nítida, fazer a separação entre a vida, as suas funções e, características e a tua forma de vida. Sei que é necessária coragem para entrar em conflito contigo – mas vou continuar a trabalhar pelo teu futuro, porque me inspiras compaixão e porque não me move o desejo de ser içado à posição de “grande” líder medíocre a que aspiram os teus miseráveis chefes.
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